sexta-feira, 5 de março de 2010

APRENDA A FAZER E SERVIR COQUETÉIS EM CASA.

A crise econômica, que certamente obrigou muitos a controlar os gastos com as saídas noturnas, bem como a tomada de consciência sobre os perigos de beber e dirigir vêm impulsionando o consumo doméstico de bebidas. Dados publicados recentemente apontam o crescimento de vendas de bebidas nos supermercados e lojas especializadas nos EUA e Europa, revelando inclusive esforços de marketing de grandes empresas do segmento, focando o consumidor doméstico. No Brasil, a queda no consumo de bebidas em bares e restaurantes pode ser sentida também nas estratégias adotadas por alguns estabelecimentos que, aos poucos, vêm estimulando seus clientes a trocar o chopinho e a cervejinha por coquetéis, o que oferece maior margem de lucro às casas.
Diante dessa realidade, chamar alguns amigos em casa e animar o encontro com alguns coquetéis preparados por você pode ser uma boa alternativa. Para que esta alternativa tenha sucesso, alguns cuidados são necessários, como ter receitas de coquetéis ao alcance das mãos. Preferencialmente, sem abrir mão dos clássicos. Além de serem receitas conhecidas cujos ingredientes não devem ser muito difíceis de achar em lojas e supermercados, os coquetéis clássicos sempre podem render boas histórias para contar.
A primeira coisa a fazer é selecionar algumas receitas de coquetéis com as quais você se sinta à vontade. Nada de drinques sólidos, gelatinas, espumas e pirotecnias. Preparações simples podem ter grande efeito. Além da escolha de receituário adequado, alguns cuidados na preparação são importantes. Na chegada de seus convidados, caso tenha alguma afinidade com a prática de preparo de coquetéis para um grupo, você certamente já terá adiantado as coisas antes da noite começar, como, por exemplo, garantir que o balde de gelo e as bebidas estejam à mão. Provavelmente, também já providenciou e organizou seus principais elementos de decoração, como tiras de casca e finas fatias de limão, laranja, etc. Esse conjunto de pequenas providências antes de iniciar o trabalho propriamente dito, é o que os profissionais chamam de mise en place. Caso não tenha tomado ainda nenhuma dessas providências, não se afobe. Não tente servir seus coquetéis de imediato.
Convide seus amigos a observá-lo nesses preparos. Primeiro sirva algo simples, que não tome o tempo que você utilizaria para seus preparos, mas que possa mantê-los com algo à mão para bebericar enquanto conversam. Pode ser algo trivial, como uma água com gás ou tônica em um copo com gelo e uma rodela de limão. Isso reduzirá principalmente o seu stress. Se você estiver estressado e afobado, seus convidados ficarão desconfortáveis. Outro motivo para se organizar antes de iniciar os serviços é que uma vez iniciadas as operações de misturar, mexer e bater, não será conveniente interrompê-las a cada 15 minutos para providenciar material para o próximo drinque.
Ambiente organizado, amigos à volta, hora de iniciar os trabalhos: It¿s show time! Vamos tratar agora de alguns cuidados na hora da produção do coquetel. Desde o surgimento da coquetelaria (que muitos autores concordam que deve ter se dado em algum momento entre o final do século XVIII e início do XIX), um sem número de publicações contendo receitas já foram impressas. Durante os anos de 1980 e 1990, quando a mixologia ressurgiu com força, além de uma série de reprints de manuais famosos, como o The bar-tender¿s guide: how to mix drinks, escrito por Jerry Thomas em 1862, outras tantas obras surgiram contemplando ensinamentos básicos sobre coquetelaria, dados históricos e outras curiosidades, além de receitas de drinques.
Entre os livros disponíveis sobre coquetelaria, alguns são marcados pelo rigor com que discutem e apresentam as formas de preparar um bom coquetel. Este é o caso da obra The joy of mixology, de Gary Regan (Potter, 2003). Ao lado de nomes como Dale DeGroff e Ted Haigh, Gary Regan é um reverenciado tutor de barman que escreve de forma didática e precisa. Entre as quase 400 páginas de seu livro, é possível coletar uma série de dicas bem humoradas que só poderiam ter sido dadas por quem conhece os dois lados do balcão. Suas observações e ensinamentos não se prestam apenas aos profissionais, podendo ser úteis também para o mixologista doméstico, que deseja entreter suas visitas nos finais de semana. Vejamos algumas delas.
Segundo Regan, o mais importante aspecto de qualquer coquetel ou mistura de bebidas é o equilíbrio. Mas o que significa dizer que um coquetel tem equilíbrio? Isso quer dizer que os elementos essenciais a serem percebidos pelo paladar devem estar presentes em um coquetel. Uma bebida extremamente doce, sem nenhuma nota de acidez e toques de amargor, por exemplo, certamente será uma bebida enjoativa, sem profundidade. O sal na borda de uma taça de Margarita não está lá à toa. Ele auxilia a destacar elementos do coquetel. Por isso que seu excesso será prejudicial ao equilíbrio da bebida, mascarando o que deveria ser ressaltado.
Mesmo um Dry Martini de característica mais seca tem registros ácidos e toques levemente adocicados. Comece a prestar atenção a essas sutilezas quando beber ou preparar seu próximo coquetel. Chame a atenção dos seus convidados para esses detalhes - claro, se o coquetel for o tema da conversa. Caso contrário, não corte uma discussão interessante sobre qualquer outro assunto apenas para descrever as notas ácidas do seu Martini. O gol que o time do seu convidado fez ou levou ainda é uma conversa mais importante que os aromas e sabores contidos em um coquetel!
Outra dica de Regan é sobre as preferências individuais. É seu trabalho, como anfitrião, levar em conta o gosto e as preferências de seus convidados. Se ao oferecer um determinado coquetel você nota que seu interlocutor não sabe exatamente do que você está falando, liste os ingredientes que fazem parte da bebida. Pergunte se a preferência é por um drinque mais doce, ácido, seco, ou até mesmo não-alcoólico. Há uma infinidade de coquetéis não-alcoólicos muito interessantes e carregados de sutilezas. Respeite as opções dos convidados, a não ser que eles deixem as decisões em suas mãos.
A próxima observação de Regan diz respeito aos sabores e peculiaridades das diferentes marcas ou estilos de uma bebida. Lembre-se que a maioria das receitas indicam as bebidas de forma genérica, como uísque, vermute, gin, etc. Ocorre que as diferentes marcas, estilos e regiões produzem bebidas com características distintas. Um exemplo: um uísque sour pode ser preparado com malt whisky ou blended whisky. Ambos são uísque, porém, cada um acrescenta uma particularidade à bebida final. Ajuste seu coquetel de acordo com os tipos e marca de ingredientes utilizados. Se for o caso, prove antes os ingredientes separadamente. No mínimo isso lhe dará um bom aprendizado.
Por fim, uma última dica do mestre Regan. Bons coquetéis são preparados com bons ingredientes. Isso não significa que você irá usar um uísque de mil reais a garrafa para fazer um coquetel, mas também não precisa usar um qualquer, que você não arriscaria beber puro ou com gelo. Aliás, neste item, a regra de ouro do mestre cachaceiro das cachaças Fulô, Vicente Bastos Ribeiro, dá o tom: não colocar em um coquetel aquilo que você não beberia puro.

Fonte: terra

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